Heráldica eclesiástica é a tradição da heráldica desenvolvida pelo clero cristão. Inicialmente usado para marcar documentos, a heráldica eclesiástica evoluiu como um sistema de identificação de pessoas e dioceses. É mais formalizada e hierarquizada dentro da Igreja Católica, onde a maioria dos bispos, incluindo o papa, e das dioceses tem brasões pessoais ou institucionais.
O clero na Igreja Anglicana, Luteranismo, Igrejas orientais e as Igrejas Ortodoxas têm costumes semelhantes, assim como fazem as instituições como escolas e dioceses.
A heráldica eclesiástica difere notavelmente das outras heráldicas no uso da insígnia especial em torno do escudo para indicar a posição em uma igreja ou denominação, um exemplo disso é o emblema na coroa, onde é utilizado um chapéu de abas largas, geralmente o galero romano. A cor e ornamentação deste chapéu indica sua posição. cardeais são famosos pelo uso do "chapéu vermelho", mas outras posições e outras igrejas possuem diferentes cores de chapéu, como o preto para o clero comum e verde para bispos, normalmente com um número maior de borlas conforme vai aumentando o posto dentro da igreja.
Outras insígnias incluem a cruz, mitra e o báculo processionais. Tradições orientais favorecem o uso de um estilo próprio de chapelaria e báculo e a utilização do manto ou capa em vez do chapéu eclesiástico. O lema e certas formas de escudos são mais comuns na heráldica eclesiástica, enquanto os suportes e timbre são menos comuns.
Os brasões dos Papas possuem suas próprias regras heráldicas, principalmente no que se diz respeito a tiara papal, as chaves de são Pedro e ao umbráculo. O papa Bento XVI substituiu o uso da tiara papal em seu brasão por uma mitra. Ele foi o primeiro Papa a fazê-lo, apesar do fato de que o papa Paulo VI foi o último papa a ser coroado com a tiara.
Os brasões de instituições têm pequenas diferenças de uso, usando a mitra e báculo mais frequentemente do que é encontrado nos brasões pessoais, embora haja uma grande variação nos usos por diferentes igrejas. Os brasões utilizados pelas organizações são chamadas de brasões impessoais ou corporativos.
Camerlengo
Camerlengo é um título de origem medieval ainda em uso em alguns ordenamentos políticos modernos. Deriva do latim medieval camarlingus, que por sua vez, vem do frâncico kamerling, que veio do latim camerarius, que significa "adido à câmara" (ficando geralmente subentendido "do tesouro" e "do soberano"). O significado do título e a função são em parte comparáveis às do cubiculário, no Baixo Império Romano, no Império Bizantino e no Papado. Na língua inglesa antiga, o título tomou a forma de chamberlain. Em geral, o título designa aquele que administra o tesouro e os bens do Estado e o órgão por ele administrado normalmente tem o nome de "câmara".
O título Camerlengo da Igreja Católica refere-se a um Cardeal do Colégio dos Cardeais. O Camerlengo da Igreja Católica é o administrador da propriedade e receita da Santa Sé; suas responsabilidades incluem a administração fiscal do Patrimônio de São Pedro. Seu brasão é ornamentado com duas chaves, sendo uma prateada outra dourada, a dourada demonstra a parte divina da igreja a prateada a parte humana; sobrepostas por um ombrellino, um guarda-chuva de listras alternantes vermelhas e brancas, que também é o brasão da Sede Vacante (tempo entre a morte de um papa e a eleição de outro). Até o século XI, o Arquidiácono da Igreja Católica Apostólica Romana era responsável pela administração da propriedade da Igreja Católica, mas seus inúmeros antigos privilégios e direitos o tornavam um obstáculo para a ação independente do Papa; como resultado, quando o último Arquidiácono, Cardeal Hildebrando, foi eleito para o Pontificado em 1073, ele suprimiu o título de arquidiácono e o cardeal responsável pelos bens da Santa Sé ficou conhecido como Camerarius ou Camerlengo. A maior responsabilidade do Cardeal Camerlengo é a determinação formal da morte do Papa; o procedimento tradicional para essa situação se dava batendo gentilmente um martelo de prata na cabeça do Papa e chamando o seu nome. Após o Papa ser declarado morto, o Cardeal Camerlengo remove o Anel do Pescador do seu dedo e o corta com uma grande tesoura na presença dos demais Cardeais e também destrói a face do selo do Papa com o Martelo de Prata. Esse ato simboliza o fim da autoridade do último Papa. O Camerlengo notifica então os oficias apropriados da Cúria Romana e o Decano do Colégio dos Cardeais, depois ele começa os preparativos para o conclave e o funeral do Papa. Até que o sucessor do Papa seja escolhido, o Cardeal Camerlengo serve como o Chefe de Estado atuante do Vaticano. Ele não é entretanto, responsável pelo governo da Igreja Católica durante a sede vacante.
A Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis colocou essa tarefa na mão do Colégio dos Cardeais - apesar desse poder governamental ser extramente restrito, possibilitando apenas que a Igreja continue operando e realizando funções básicas, sem poder tomar decisões ou compromissos que são normalmente delegados apenas ao Papa.
O Cardeal Camerlengo, ainda assim, mantém seu escritório durante a sede vacante, ao contrário do resto da Cúria Romana. O Cardeal Camerlengo atual é o Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Sua Eminência Reverendíssima O Cardeal Kevin Joseph Farrell.
Brasões dos Papas
Os Brasões dos Papas são utilizados há oitocentos anos, cada Papa tem seu próprio brasão pessoal que serve como um símbolo de seu pontificado.
O primeiro Papa cujo brasão é confirmadamente conhecido é Inocêncio III ( 1198 - 1216 ).
Todos os brasões pontifícios continham a imagem da tiara papal, porém Bento XVI mudou a simbologia de seu brasão, personalizado-o e utilizando a mitra e a toalha de altar em vez da tiara.
Os brasões papais também são tradicionalmente caracterizados por possuírem as chaves do céu, uma chave de ouro e prata, representando o poder de desligar e ligar a terra (de prata) e o céu (ouro). Trata-se de uma referência ao Evangelho segundo São Mateus , capítulo 16, versículos 18-19: “ E eu te declaro: tu és Pedro e sobre esta pedra edificará a minha Igreja e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus, tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra, será desligado nos céus.”Assim, em heráldica eclesiástica, as chaves simbolizam a autoridade espiritual do Papa como o Vigário de Cristo na Terra.
História
Na Idade Média, os brasões tornaram-se de uso comum para a nobreza, e também foi-se desenvolvendo uma heráldica civil. Paralelamente, também para o clero se formou uma heráldica eclesiástica. Ela segue as regras civil para a composição e a definição do brasão, mas possui símbolos e insígnias de caráter religioso, segundo os graus da Ordem sacra, da jurisdição e da dignidade.
É tradição, desde o século XII, que também os Papas tenham seu brasão pessoal, além dos simbolismos próprios da Santa Sé.
Os brasões papais aparecem de fato em obras de arquitetura, em publicações, em decretos e documentos de vários tipos.
Com freqüência os Papas adotavam o brasão da própria família caso existisse, ou compunham um brasão com simbolismos que indicavam um próprio ideal de vida, ou uma referência a fatos passados, ou a elementos relacionados com seu objetivo como Sumo Pontífice, um exemplo disso é o brasão do Papa João Paulo II, um brasão mariano.
Por vezes acrescentavam algumas variantes ao brasão que tinham adotado como Bispos .
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